Retrospectiva 2024: As enchentes no estado do Rio Grande do Sul e o luto coletivo

Em maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul, onde eu moro, foi atingido pela maior enchente da sua história. Atuei como psicóloga voluntária em abrigos e vi de perto a situação de muitas pessoas que tiveram que deixar suas casas, deixar muito para trás…

Vi, também, muitas pessoas realizando trabalho voluntário, que tomou conta de toda sua rotina, e que estavam ficando exaustas. Em uma tragédia desse tamanho, o que os gaúchos viram e vivenciaram foi um momento de grande mobilização, solidariedade, e, também, um luto coletivo.

Luto, por perder sua casa, seu bairro, até mesmo sua cidade. Luto, por perder a segurança de um lar. Luto, por perder pessoas e animais no meio da água. O nosso mundo presumido – lugares que vamos todos os dias, onde comemos, estudamos, trabalhamos – mudou de um dia para outro. Esses lugares estavam inundados. A dor foi de cada um, dependendo do que passou, mas foi, também, uma dor coletiva. Uma dor compartilhada, uma tristeza inimaginável.

Na primeira fase do desastre, foram necessários os chamados primeiros socorros psicológicos, um acolhimento, tentando prover a pessoas que estavam muito vulneráveis aquilo que precisavam naquele momento inicial (apoio, remédios, roupas, …). Depois, veio o momento em que as pessoas iriam retornar para suas casas e enxergar a realidade – casa destruída, casa com possibilidade de reconstrução, … Foi necessário o apoio psicológico a essas pessoas, visto que cada um iria reagir a nova realidade de uma maneira, dependendo de seus recursos (financeiros ou psicológicos).

Passadas essas fases, ainda continuei realizando atendimento gratuito para quem passou pelos eventos. Foi necessário acompanhamento de pessoas que vivenciaram essa tragédia e que poderiam ficar com traumas. Muitos viveram eventos estressores, ou seja, foram expostos, de forma direta ou não, a um ou mais episódios de ameaça de morte, lesão física, perdas – situações potencialmente traumáticas. Reações muito comuns, como medo, choque, desorientação, confusão de pensamentos, náusea, fadiga, entre outros, ocorrem nos primeiros dias e semanas, mas devem, com o passar do tempo, diminuir ou cessar.

Dependendo das vulnerabilidades preexistentes, do grau de exposição aos eventos estressores, entre outras, algumas pessoas podem continuar apresentando reações e podem desenvolver transtornos mentais, tais como o TEPT – transtorno do estresse pós-traumático.

Por isso, para que o indivíduo atravesse por essa situação de uma maneira melhor, foi necessário o apoio psicológico e um acompanhamento. O trabalho do psicólogo foi e ainda é de grande valia para a tragédia do Rio Grande do Sul.

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